quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

Inselbergs do Vale do Mucuri, nordeste de Minas Gerais

No início do século XIX, vários naturalistas europeus carregavam em suas expedições pessoas para ilustrarem as florestas tropicais na distante e perigosa terra. 
Eu tenho o prazer de, em pleno século XXI, carregar o meu pai para minhas expedições, que delicadamente ilustra os inselbergs de nossa região.

Óleo sobre tela. Marcelo Amorim de Paula

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Naturalistas - Saint Hilaire



Santo "Seu" Hilário na Serra do Lenheiro from Rodrigo Maia filmes on Vimeo.


"Uma das malas servia-me ordinariamente de assento: outra fazia o papel de secretária. Mal me instalava, punha-me a estudar os vegetais que recolhera; os insetos eram espetados, as plantas mudadas de papel, etiquetadas e postas na prensa. Meu criado auxiliava-me eficazmente na parte manual do trabalho, e extraía as vísceras dos pássaros abatidos durante a caminhada. Se ainda me sobrava algum tempo antes do anoitecer, ia fazer nova herborização; conversava com meus hospedeiros, e procurava colher deles as informações que me eram necessárias; escrevia meu diário e às dez horas deitava-me na rede." Saint-Hilaire. Viagem pelas províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais. Belo Horizonte: Itatiaia, 2000, p.118.

Exposição Saint Hilaire

Saint Hilaire e as paisagens brasileiras


"A exposição comemora o 200º aniversário da chegada de Saint Hilaire ao Brasil, descrevendo o itinerário percorrido pelo botânico e naturalista através de uma fusão de textos e imagens. Na mostra, densas florestas, campos gerais com araucárias, o distrito diamantino, índios, tropeiros e gaúchos saltam dos relatos escritos por Saint-Hilaire e ganham forma através das gravuras e desenhos produzidos por outros artistas, alguns dos quais no âmbito de expedições que seguiram o mesmo trajeto, como a de Carl von Martius e a do príncipe Maximilian zu Wied-Neuwied." - Biblioteca Nacional

Local: Biblioteca Nacional - Salão de Obras Raras
Av. Rio Branco, 219 - 3° andar
Rio de Janeiro, RJ, Brasil

Período: De 9 de dezembro a 28 de fevereiro
Segunda a sexta, de 10h às 17h
Classificação livre.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016

O Recado do Morro

Selos ideais para as cartas de fim de ano!

Bom que o envelope já vai com mensagem subliminar...
Inselberg - insel = ilha e berg = montanha
Ilha = mundo em miniatura, templo, refúgio, lugar de eleição, de silêncio e de paz, em meio à ignorância do mundo.
Montanha = ascensão (na qualidade de vida - educação, saúde...), desenvolvimento, grandiosidade, qualidade superior da alma, evolução humana, resistência, força.

Começarmos 2017 com ainda mais força para lutar contra
todas as atrocidades que andam fazendo com o povo brasileiro
e com nossa biodiversidade!

* Todas as definições foram retiradas do Dicionário de Símbolos - mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números, de J. Chevalier & A. Gheerbrant -  5ª ed. - Rio de Janeiro: José Olympio, 1991.
** Os selos podem ser adquiridos nas agências centrais dos Correios.
*** Selos da Armênia são de difícil aquisição. São, portanto, meramente (?) ilustrativos.
**** O Recado do Morro - referência ao conto de João Guimarães Rosa. Recomendo leitura!

Selo Correios 2013 - comemoração de 100 anos do Bondinho
Selo 2016 emitido pela Armênia - comemoração dos Jogos Olímpicos
Selo Correios 2016 - Arenas Olímpicas no Rio

segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

A palavra Minas

(Carlos Drummond de Andrade)

Minas não é palavra montanhosa
É palavra abissal
Minas é dentro e fundo
As montanhas escondem o que é Minas.
No alto mais celeste, subterrânea,
é galeria vertical varando o ferro
para chegar ninguém sabe onde.
Ninguém sabe Minas. A pedra
o buriti
a carranca
o nevoeiro
o raio
selam a verdade primeira,
sepultada em eras geológicas de sonho.
Só mineiros sabem.
E não dizem nem a si mesmos
o irrevelável segredo
chamado Minas.


quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Ciência Hoje das Crianças - " Ciência Hoje for Kids"

Olá pessoal, 

Esse mês os "Pães de Açúcar" foram capa da revista de divulgação científica Ciência Hoje das Crianças. O texto ficou bem divertido. Para aqueles que tem pequeninos em casa, vale a pena comprar a revista! Ou ler o PDF que disponibilizo no blog. 

Para quem quiser acessar o site da revista, aí vai o link: http://chc.org.br

Boas aventuras!






sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Homo botanicus



Realmente os botânicos constituem outra espécie...

É outra forma de sentir a vida, o mundo...


Indeed botanists are another species...

It is another way of feeling the life, the world...



HOMO BOTANICUS - Teaser (mixed ST. - subt. ENG) from casaTARÁNTULA on Vimeo.

domingo, 2 de outubro de 2016

Da qualidade de ser forte

Sobre enfrentar intemperismos, trabalhar com inselbergs, ser mulher cientista, naturalista...



Pupa 
                                                                                  Leonilson

Inquieto e lúcido, o calor do corpo era permeado pela alma, suave.
Não havia nada se não tudo.
Os ânimos se acalmaram depois da chuva 
que surgiu silenciosamente dentro da densa madrugada. 
Ainda assim, o vulcão cuspia seu conteúdo quente, 
feliz e devastador para todos os lados, 
irreprimível, 
selvagem,
explosivo. 
Emergia os mais puros e fortes sentimentos: 
Toda emoção era conteúdo do vulcão. 
Eu saia da pupa.
A mutação matutina estava completa. 
Eu era um novo EU, assim como o mundo que se apresentava diante de mim.
O dia brilhava forte, incandescente de emoção.




domingo, 14 de agosto de 2016

Pães de Açúcar: refúgios de alta biodiversidade da Mata Atlântica - "Sugar Loaves: refuges of high biodiversity in the Atlantic Forest "

E nesse papo de Olimpíadas Rio 2016, quisemos chamar a atenção para o ícone do evento: o Pão de Açúcar. Incentivamos um olhar biológico para essas formações geológicas, no intuito de ressaltar que esse ícone também representa o que realmente temos de mais lindo no nosso país: a natureza.
Vale a pena uma rápida leitura da próxima edição da Ciência Hoje, que colocará como capa o Pão de Açúcar, mas dessa vez, não somente compondo um lindo cenário, mas representado uma cápsula no tempo da diversidade biológica! 










Publicação também disponível no site: http://www.cienciahoje.org.br/revista/materia/id/1071/n/paes_de_acucar:_refugios_de_alta_biodiversidade#.V8dJoCVpSaE


quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Entrevista com o Prof. Dr. Stefan Porembski sobre os inselbergs no Brasil - "Interview with Prof. Dr. Stefan Porembski about inselbergs in Brazil"

A Bocaina Biologia da Conservação é uma empresa que preza pelo treinamento, aperfeiçoamento e capacitação em diversas áreas ambientais, como ecologia, zoologia e botânica. Além disso, atualmente tem um importante papel na divulgação científica no Brasil:
http://biologiadaconservacao.com.br

Recentemente, fizeram uma entrevista com o Prof. Dr. Stefan Porembski (Universidade de Rostock), que falou sobre florística e ecologia dos inselbergs (pães de açúcar) no país.
Confira a entervista na íntegra:


"The Bocaina Biologia da Conservação is a company that is committed in training people in many environmental fields,such as ecology, zoology and botany. Furthermore, currently plays an important role in scientific disclosure in Brazil:
http://biologiadaconservacao.com.br
They recently made an interview with Prof. Dr. Stefan Porembski (University of Rostock), who talked about floristic and ecology of inselbergs (sugar loaves) in the country.
Check the interview below:"



quinta-feira, 14 de julho de 2016

"Angriff auf den Zuckerhut" - Sugarloaf Mountain under Attack? Pão de Açúcar em Perigo?

         Hoje saiu no jornal alemão "Die Zeit" uma matéria sobre o Pão de Açúcar e suas preciosas plantas, o que é parte da pesquisa que desenvolvo juntamente com a Luísa Azevedo (UFMG), as pesquisadoras Luana P. Mauad e Rafaela Forzza (JBRJ), e os pesquisadores Stefan Porembski e Juliane Rexroth (Universität Rostock), além de outros pesquisadores brasileiros e alemães envolvidos.
        Passamos uma tarde com o jornalista alemão Thomas Fischermann, que cuidadosamente relatou diversos aspectos da vida secreta dos seres vivos que vivem sobre esses afloramentos rochosos, e ressaltou como essa biodiversidade se encontra ameaçada.
        Fico imaginando o jornal com os alemães, em suas residências, que sempre olharam para o Pão de Açúcar como um monolito turístico, uma pedra linda enfeitando a paisagem, e que de repente se deparam com biólogas falando que o que eles vêem não é somente "pedra", mas um ecossistema super complexo, que clama por atenção.
        Fiquei feliz, espero que as pessoas se voltem com um olhar biológico não só para o Pão de Açúcar, mas também para o seu redor. Afinal, fazemos parte da natureza.


Uma página do Die Zeit dedicada ao mundo secreto das planta do Pão de Açúcar! ! 




Bastidores: Entrevista descontraída no Pão com Açúcar, com o jornalista alemão Thomas Fischermann, correspondente do jornal Die Zeit. 



quarta-feira, 6 de julho de 2016

Viagens aos Pães de Açúcar



Image and video hosting by TinyPic
Viagens físicas, geográficas, geológicas, botânicas, acadêmicas, naturalistas, transcendentais, holísticas, musicais, poéticas e artísticas....

terça-feira, 31 de maio de 2016

Jardins dos inselbergs - "Inselberg gardens"



Os inselbergs são casas para plantas extremamente ornamentais, que crescem em ilhas de vegetação, com solos rasos. É possível encontrar, por exemplo, vários membros da família das violetas (Sinningia), begônias (Begonia), orquídeas (ex.: Encyclia), apocináceas (Mandevilla e Allamanda), lírios (ex.: Hippeastrum) e canelas-de-ema (Vellozia e Barbacena):





Não há dúvidas de que nos deparamos com verdadeiros jardins naturais!! 



segunda-feira, 30 de maio de 2016

O Rio antes e depois

A urbanização trouxe à cidade desmatamento, crescimento desordenado, pobreza, desigualdade, verticalização, aridez... As rochas continuaram quase intactas, intransponíveis. Os pães de açúcar são muito mais do que paisagens, mais do que simples cenário. O conjunto praia, vegetação e rocha provoca um sentimento tropical, místico. A Natureza é a protagonista da Cidade Maravilhosa. O Rio só continua lindo por causa dos pães de açúcar. 

Rocinha e Pedra da Gávea (Arquivo IMS e Ailton Silva/IMS)
                    Morro Dois Irmãos (Augusto Malta/Arquivo IMS e Ailton Silva/IMS)
Avenida Niemeyer (Armando Pittigliani/Arquivo IMS e Ailton Silva/IMS)
Estrada da Gávea (Augusto Malta/Arquivo IMS e Ailton Silva/IMS)
São Conrado (Marc Ferrez/Arquivo IMS e Ailton Silva/IMS)

Texto: Luísa Azevedo

Todas as imagens foram retiradas do site do Instituto Moreira Salles e estão disponíveis no link: http://ims.com.br/ims/explore/acervo/noticias/territorio-rocinha



Herbário RB

Lu, no herbário RB no Rio de Janeiro, comparando exsicatas de espécies de Vellozia coletadas sobre afloramentos graníticos antes de irmos para campo. À direita, uma coleta de Vellozia candida realizada por ela em Teófilo Otoni (MG), que está digitalizada e disponível online no link do Jabot - http://jabot.jbrj.gov.br/v2/templaterb2.php?colbot=RB&codtestemunho=799351&arquivo=00799351.jpg

Coletas botânicas

Organizando as coletas no Herbário RB
 - Jardim Botânico do Rio de Janeiro

"Paisagem renovada"
"Destaques e detalhes"

segunda-feira, 23 de maio de 2016

A Metamorfose

Cinco Pontões Capixabas (ou Cinco Pontões Mineiros?)
Localizados no distrito de Joatuba, Município de Laranja da Terra, Espírito Santo.
Foto de Carlos A. Jarske com pequenas modificações ungulares.


Estou me transformando em inselberg.
O pé, quente como vulcão, borbulha seu magma em pequenas contrações e espasmos.

Afloram rochas magmáticas de granito e gnaisse.

O relevo de pé-dra é testemunho de intempéries de um calçamento de paralelepípedo em domínio carioca. Foi um acidente geográfico.

O pé inchado e de formato arredondado destaca-se na paisagem.
Sensível geomorfologia...

As pioneiras cianobactérias não tardam a colonizar a planta e os dedos da pé.dra. Fato evidenciado pela cor escura, que chega quase a ser preta, na superfície dermática branca. Em noites de luar, a fina camada de pele desse tecido bacteriano adquire aspecto prateado inebriante quando associada aos filetes de água! Vale a pena viajar com as cortinas abertas durante viagens de ônibus Minas - Bahia.

Selaginella sellowii começa a formar extensos tapetes próximos ao tornozelo, onde ocorreu a lesão. Essas samambaias parecem pequenos e delicados vasos sanguíneos da hidrografia, que se romperam com o traumatismo, extravasando sua seiva.

A dormência e ardor evidenciam a presença dos Cnidoscolus e das Aosa, que inclusive contribuem ainda mais para a petrificação e dureza da superfície, pelas reações causadas por suas substâncias urticantes.

É grande a inclinação do complexo Parque Estadual e Reserva Nacional Ambiental (PERNA). Ansiosamente, aguardo a chegada das bromeliáceas que ocupam esses paredões rochosos tão íngremes. Aaaa essas Vriesea 90 graus... Talvez já estejam na vertente S(ola) da pédra, sendo portanto inalcançáveis.

Nos cinco pontões, próximos ao topo, camadas mais lisas, rígidas e de formato ungular se fazem presentes. Curiosamente, os pontões estão orientados para o mesmo sentido. As plantas que ocupam esses picos apresentam adaptações singulares. São revestidas por proteínas fibrosas de quitina com finas camadas de cutículas nas bases da face adaxial. Característica que permite proteção contra fungos e bactérias num ambiente tão inóspito e susceptível a micoses.

O odor desagradável de chulé denuncia a presença da Plantaginaceae Achetaria crenata. Ela bem gosta de habitar as depressões rasas mais úmidas presentes graças ao suor de pédra aquecida com os processos vulcânicos e inflamatórios.

A altitude máxima é de 173 m (x10^-1*) e não há presença de campos graminosos nessa topografia. Meu afloramento, portanto, não pode ser caracterizado como campo de altitude. É um pão de açúcar típico! Lhe falta, porém, a fama dos pães de açúcar do Rio. Poucas foram as visitas que recebeu desde seu surgimento. Mas não é por falta de prestígio, talvez seja por desconhecimento. Compreendo que estamos em época de baixa temporada. Falta tempo aos amigos...

Semana passada, a pédra recebeu o grupo Tem Café?. Vieram conferir, com seus instrumentos (sax, baixolão, violão, ovinho e guitarra), a acústica agradável da ressonância sonora de todas as minhas flores. Afloraram tanta alegria, que, (acreditam?) quase virei a sorridente Pedra da Boca de Teófilo Otoni!

A planta (da pédra) apresenta cores azul e amarelo-esverdeadas em vários aglomerados. São cores das folhas dos Encholirium horridum e E.gracile. Em alguns pontos mais isolados reconheço flores roxas de indivíduos de Mandevilla grazielae, Sckwenckia novaveneciana, Tibouchina heteromalla, Pleroma marinana. Ilhas de vegetação de verde folhagem cobrem a PERNA. Folhagens de ervas rupícolas compostas por Barbacenia tomentosa, Alcantarea e, óbvio, pela canela de ema Vellozia plicata.

Os tricomas dos folículos pilosos evidenciam amontoados de cactos. Pelo nível de rigidez e maleabilidade dos espinhos, arrisco dizer que são os Coleocephalocereus buxbaumianus. Esses tricomas auxiliam na manutenção da temperatura e protegem o tecido contra radiação solar intensa.

Algumas protuberâncias arredondadas, similares a articulações de osso, são na verdade tubérculos de geófitas que ainda não emergiram à superfície. Provavelmente, são indivíduos graciosos de Sinningia esperando as chuvas sob esses murundus.

Em alguns pontos mais frágeis é possível observar fendas e linhas de fissura. A nimesulida acelera o intemperismo químico, provocando corrosões que descamam a rocha. Tais processos erosivos resultam em lascas de granito que ocasionalmente despencam dos penhascos.

A diafanização dissecativa confirmaria a unicidade de cada pédra. Mesmo distante por apenas 5 Km (x10^-5**), a hidrografia de vasos, tendões e escrubes musculares não são idênticos. O teste de similaridade com a pédra da direita revelou que cada formação tem flora exclusiva. O fluxo gênico inexiste. Cada afloramento é uma comunidade e ecossistema distintos.

A metamorfose em rocha monumental é desconfortável, porém deslumbrante. Quando vivenciaria as minúcias de meus hematomas e sentiria de forma tão intensa esse processo corporal geomorfológico estrutural? Quando voltaria minha atenção exclusivamente para mim, para os meus sedimentos e sentimentos? Confesso que não é uma das 7 maravilhas do mundo como o Corcovado. Sinto muita dor. Mas reconheço que essa dor participa do meu desenvolvimento criativo momentâneo. Foi em madrugadas sem dormir que escrevi este texto. Desejo enraizar meus dedos no solo, correr, me juntar às outras formações. Não é fácil transpor montanhas. A evolução exige paciência. É processo lento, uma sucessão de estados. São processos da Vida...

Me questiono se esses processos ocorrem mesmo por acaso. Não acho que sejam estocásticos. Estão atrelados à ecologia funcional?

Felizmente nenhuma intervenção antrópica será realizada. Pinos, cortes de blocos de granito e explosões não são medidas necessárias. A proprietária do local onde se encontra o afloramento preza pela conservação e preservação da Natureza e se opõe a práticas extrativistas e agressivas das mineradoras.

A transformação, segundo doutores em ortognaisse, será concluída daqui a 61,645 milhões de anos (x 2x10^-9 ***). Terminada essa etapa e a fisioterapia, voltarei aos tão almejados e saudosos campos!

Luísa Azevedo.

* 173 m x 10^-1 = 1,73 m, minha altura.
** 5 Km x 10^-5 = 5 cm,  distancia entre meus os pés.
***61,645 milhões de anos x 2 x 10^-9 = 45 dias, período que terei que ficar de pernas pro ar.

Obs. Toda espécie citada apresenta alguma característica análoga à minha situação ou sintoma. As plantas mencionadas realmente apresentam as cores dos meus hematomas. As folhas da Plantaginaceae Achetaria crenata têm odor desagradável e forte de chulé. Lu e Naroca são as únicas que acham o cheiro bom! Rsr. Cnidoscolus e Aosa possuem substâncias urticantes que provocam queimaduras e inflamações. Deixam a pele avermelhada, enrijecida, inchada. O termo ortognaisse não é a junção de ortopedista e gnaisse, é a rocha proveniente do granito. Nimesulida é o nome do medicamento.

Herbário Ambulante

Luisinha com o pé florido e ilustrações da Margaret Mee
No início de maio, estava no Jardim Botânico do Rio de Janeiro organizando nossas coletas de março e abril. Iria me encontrar com a Lu, que chegaria depois, e com a Lua para terminarmos a arrumação e seguirmos com mais expedições botânicas no norte do estado e no sul do Espírito Santo. Finalizaríamos também a amostragem nos afloramentos da cidade maravilhosa. Eis que no fim de semana, andando em uma rua íngreme e escorregadia de paralelepípedo, torço o pé e quebro o tornozelo. Um azar... Fui ao hospital, tirei raio-X e tive a perna engessada. Felizmente não precisei operar. No dia seguinte, retornei a Belo Horizonte. Pesarosa por perder os campos, colei no gesso várias plantas de coletas passadas, forma que encontrei de trazer os campos para pertinho de mim. Samambaias, sementes de Asteraceae, folhas, flores de Fabaceae, Lauraceae, Polygala, Encholirium, Calibrachoa, Bradea borrerioides (sp. nova!!), Melinis repens... Coletas do Rio, de Niterói, do Pico das Almas na Chapada Diamantina, de BH, do sul da Bahia, do Espírito Santo, do Parque Estadual do Rio Preto, de Teófilo Otoni... Um pé que de dolorido virou florido! Ficarei 45 dias de pernas pro ar. Em breve, Lu e Lua darão notícia das viagens!


segunda-feira, 16 de maio de 2016

Sentimento Naturalista



Expedição em uma cadeia de inselbergs graníticos no Sul da Bahia - Brasil
Diante de tanta atrocidade ambiental/ecológica, desmatamento e destruição, ainda é possível encontrar no Brasil (sem ser na Amazônia) lugares inexplorados e esplendorosos.

Em abril deste ano, eu e os botânicos Lu, Luana e Stefan, fomos os primeiros, e únicos estudiosos de que se tem registro, pelo menos nos últimos 50 anos, a subir uma cadeia de inselbergs graníticos, em uma fazenda no Sul da Bahia.

É inacreditável pensar que em pleno século XXI, desperta-se tão espontaneamente o sentimento naturalista de explorador, da busca pelo desconhecido e por espécies novas, e o entusiasmo por diferentes cores, formas e cheiros ainda não vistos e não sentidos...

Ao começar a subir as pedras, o batimento cardíaco aumenta e a adrenalina jorra incessantemente. O esforço físico é intenso na pedra inclinada. As pupilas dilatam, aguçando a visão, que procura ver e enxergar cada tom de cor. Assim, o espectro de verde quadruplica e a perspectiva empurra profundamente todas as camadas de vida à retina. Tudo é visto com mais detalhes, para absorver a beleza da Natureza ainda intocada e virgem aos olhos (de um pesquisador). O cérebro aumenta a quantidade de sinapses, fazendo correlações e questionamentos, que a cada passo reafirmam esse sentimento pitoresco tão inato de exploradores aventureiros.  

Logo no início da expedição, o grupo se dispersou. Inconscientemente, cada um foi para um canto, com o intuito de visitar maior área, aproveitando ao máximo cada segundo da luz do dia. Hora ou outra, nos encontrávamos diante de chamados (e até de gritos) exclamativos e entusiásticos para o compartilhamento de descobertas.

Fiquei tão extasiada que comecei a andar por impulsos acelerados. Parecia que estava atraída por ímãs de cores e formas magnéticas. Tropeções e quedas eram comuns nesse estágio de desatenção, que inclusive poderiam ser fatais em terrenos tão íngremes. Os dedos sofriam apertados contra a biqueira da bota, que acompanhava a inclinação da rocha. Porém o deslumbramento compensava todo o incômodo.

Obsessivamente, num gesto quase automático, levamos flores, folhas, resinas e caules ao nariz como se quiséssemos absorver os cheiros daqueles campos - embriagantes de pedra, Sol, néctar, pólen, chuva, planta e bicho.

Saturados os receptores hormonais, neurônios dendríticos de sensações térmicas e nervosas são desativados. O rosto encontra-se vermelho quente, consequência da aba do chapéu virada para cima, para enxergar as arvoretas mais altas e o voo de aves e insetos endêmicos. A despolarização da membrana dos axônios nem chega ao centro do sistema nervoso. Em micro milésimos de segundos, arranhões, batidas, queimaduras com plantas urticantes (Cnidoscolus e Aosa), cortes, espinhos de cactos que ultrapassam até a derme são esquecidos por qualquer novo ser vivo que subitamente é observado. 

Nos reconhecíamos em indivíduos gigantes de Encholirium (parte do complexo E. horridum), que possuíam folhas em rosetas maiores que um abraço e inflorescência de mais de 3m de altura com ramificações longas e pendentes, como braços humanos. Adjetivos carinhosos acompanhavam os gêneros Vellozia cheirosa, V. mini, V. áspera, Tibouchina fina, Poaceae dominante, Paliavana pequena, Lamiaceae perfumada, Vriesea 90 graus.

O Sol mergulhava entre as silhuetas das pedras. Ali, o dia acabava 754 metros mais cedo. Começamos a descida. Coletávamos o que as mãos, já carregadas de sacos de coletas, ainda permitiam. E, assim, em 4 dias de expedição, eternizamos 27,13 Kg de plantas, histórias e muitas emoções.

Todas mudanças corporais vivenciadas ultrapassam meras explicações fisiológicas. A paixão pelo conhecimento, a vaidade pela descoberta, a sensibilidade, o encantamento pelas minúcias da Natureza, pelas texturas, cores, formas e cheiros, indubitavelmente, fundam minha formação como naturalista, como Luísa.

Confesso que essas sensações descritas me acompanham nos campos, por mais visitados e explorados que sejam os lugares. Sempre são novas comunidades, novos arranjos de espécies, novas composições, novos olhares e maturidades. O mesmo lugar nunca é igual. As cores, a interação com a luz, com o tempo, com outras vidas são únicas. A Vida é uma renovação constante. 

Recordo o comentário do proprietário dessa fazenda que visitamos na Bahia: - “Vocês são os primeiros pesquisadores a subirem essas pedras.” A partir daí, o sentimento naturalista e desbravador pioneiro foi tão intenso e tão destacado que me deu vontade de registrar e partilhar com vocês.

Luísa Azevedo

quinta-feira, 28 de abril de 2016

Prensa Botânica



Secagem do material botânico coletado em Teófilo Otoni, nordeste de Minas Gerais. As plantas, antes de serem incorporadas nas coleções, passam pela estufa para desidratação, possibilitando, assim, sua preservação nos herbários sob condicionamento adequado em temperatura e umidade ideais. Normalmente, o período de 4 a 5 dias é suficiente para elas perderem toda a água. Porém, as suculentas costumam ficar o dobro do tempo.


Nem tudo são flores em uma prensa de campo...


Notas do meu caderno de campo: Respeito pela Natureza e Amor constituem as maiores coletas e aprendizados (ver espaço ocupado por elas na prensa). Inclusive, essas duas são as mais resistentes e robustas, e, por isso, precisam estar entre dois alumínios. Ainda assim, felizmente não secam. Os dois alumínios são simplesmente para o respeito e o amor ficarem ainda mais quentinhos em mim. E, mesmo a pobreza sendo grande, exercendo forte pressão sobre elas, observei que não cedem. Não reduzem nem um milímetro de espessura e nem de importância.

Impossível coletar só plantas em todas as comunidades e pequenos povoados que visitamos em nossas expedições.... Muitos lugares são pobres, sem escolas, sem saneamento, sem energia, sem água....

Prensa botânica grande só tem valor quando é preenchida por outras coisas além de flor.

Luísa Azevedo




quarta-feira, 27 de abril de 2016

Canaã do Brasil



Canaã do Brasil encontra-se no domínio da Mata Atlântica, no nordeste de Minas Gerais, que, agora, está mais para Caatinga de tão árida. Sem suas matas nativas, derrubadas para carvoaria e para somar mais alqueires de terra aos grandes fazendeiros do coronelismo.

Localiza-se sobre a linha geográfica das formações graníticas e gnáissicas (inselbergs) e abaixo, bem abaixo, da linha da pobreza. Num nordeste coordenado e condenado pelo descaso e esquecimento.

Contém os afloramentos mais lindos, a vista mais esplendorosa, as plantas mais raras, potenciais turísticos inúmeros e as casa mais simples e menores, mais abafadas, mais escuras, mais peladas (sem livros, eletrodomésticos), sem energia, sem água...

Entre tantas pedras e contradições, (r)existe também caráter humano não lapidado pela corrupção, ganância, globalização. (R)existe a Dona Ana, que mora em 3m quadrados de pau a pique com o seu Lourito e pequena plantação de (sub)existência. (R)existem pessoas e famílias inteiras vivendo em harmonia com a Natureza, sem nada lhe pedir além de algumas gotas de chuva.

Lugar (exu)ber(r)ante de pedra.
Desolado. Isolado. Insolado.

Ao recebermos um convite de Dona Ana para entrarmos em sua casinha, impossível não (re)parar, apesar de seu pedido para não nos atentarmos à simplicidade.

Como não (re)parar tamanho contraste?
Não ver as goteiras no telhado de remendos e materiais reciclados?

Como sair de lá só-mente com sacos de plantas e me esquecer do solo sofrido e envelhecido da pele de Dona Ana? Como me esquecer de sua bondade e simplicidade? Como não coletar essa Vida comigo?

N(ord)este centro de beleza e pobreza,
rico e pobre,
peço,
clamo por atenção.

Luísa Azevedo

quarta-feira, 13 de abril de 2016

Viagens aos pães de açúcar: Rio de Janeiro, 2016

Enfim, conseguimos finalizar um curto documentário sobre a nossa temporada no Ridexaneiro.
Muitas coletas botânicas, risadas e, claro, uma prainha para incentivar a criatividade!

Em breve, lançaremos a expedição no Espírito Santo! :)

Saudações naturalistas...







terça-feira, 12 de abril de 2016

Lu & Lu ... e Lua!



O blog agora vai ter uma participação especial da Luana, pesquisadora do Jardim Botânico do Rio de Janeiro! A Lua também vem desenvolvendo seu doutorado com a flora dos inselbergs. Mais uma Lu(a) na jornada. E as meninas seguem aflorando... 
Essa carioca irá compartilhar muitas histórias e aventuras sobre as suas viagens aos pães de açúcar da cidade maravilhosa! Aguardem! :)


Seja bem-vinda, Lua! 



segunda-feira, 7 de março de 2016

Rio de Janeiro!

Eu e a Lu seguimos com as nossas expedições botânicas!!


Agora estamos no Rio!!! Essa cidade maravilhosa, cheia de encantos mil...

Lá vai mais um videozinho procês sentirem um bocado das nossas aventuras!

No sábado subimos o Pico dos Dois Irmãos e ontem subimos a Pedra da Gávea!!


E a pesquisa continua.....
Trilha sonora do nosso querido Tem Café?  https://www.youtube.com/watch?v=m4JsmtV_t_c



sexta-feira, 4 de março de 2016

Rio de Janeiro, 1910



Vista do Botafogo e Pão de Açúcar (Augusto Malta, 1910)

Foto: arquivo Instituto Moreira Sales.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2016

Sugar Loaf Land in south-eastern Brazil: a centre of diversity for mat-forming bromeliads on inselbergs

E nesse clima carioca, nada melhor que essa publicação que acabou de sair do forno! Um pouquinho de ciência pra ser compartilhada não faz mal a ninguém! :)

Esse trabalho fala sobre as bromélias formadoras de tapete (mats) nos inselbergs, especialmente aqueles presentes no sudeste e nordeste do Brasil. 

Esse é o habitat mais conspícuo para o qual é possível perceber grande diferença na composição florística e na estrutura da vegetação ao longo dos trópicos (Porembski et al., 1998). . Basicamente, esse habitat é formado por densas moitas de monocotiledôneas que ocorrem na rocha, tanto em superfícies planas como em encostas íngremes, com uma aparência de tapete, e estão firmemente ligadas à rocha por raízes resistentes (Porembski, et al., 1997;. Porembski, 2007). Cinco famílias de angiospermas são típicas formadoras de tapetes: Bromeliaceae, Cactaceae, Cyperaceae, Poaceae e Velloziaceae. 

Os tapetes de monocotiledônea brasileiros estão entre os que possuem a maior riqueza de espécies do mundo, com base em dados disponíveis, pode-se esperar que, no Brasil, a área que compreende os estados do Rio de Janeiro, Espírito Santo, sul da Bahia e partes adjacentes de Minas Gerais formam o hot spot de diversidade da flora de inselbergs, tanto em relação ao números de espécies quanto ao de endemismos (Porembski, 2007; Porembski & Barthlott, 2000b;. Porembski et al., 1998). 

Colocamos só algumas páginas (com figurinhas legais), quem tiver interesse, envie email para luizafap@gmail.com, que encaminho o PDF completo.