quarta-feira, 27 de abril de 2016

Canaã do Brasil



Canaã do Brasil encontra-se no domínio da Mata Atlântica, no nordeste de Minas Gerais, que, agora, está mais para Caatinga de tão árida. Sem suas matas nativas, derrubadas para carvoaria e para somar mais alqueires de terra aos grandes fazendeiros do coronelismo.

Localiza-se sobre a linha geográfica das formações graníticas e gnáissicas (inselbergs) e abaixo, bem abaixo, da linha da pobreza. Num nordeste coordenado e condenado pelo descaso e esquecimento.

Contém os afloramentos mais lindos, a vista mais esplendorosa, as plantas mais raras, potenciais turísticos inúmeros e as casa mais simples e menores, mais abafadas, mais escuras, mais peladas (sem livros, eletrodomésticos), sem energia, sem água...

Entre tantas pedras e contradições, (r)existe também caráter humano não lapidado pela corrupção, ganância, globalização. (R)existe a Dona Ana, que mora em 3m quadrados de pau a pique com o seu Lourito e pequena plantação de (sub)existência. (R)existem pessoas e famílias inteiras vivendo em harmonia com a Natureza, sem nada lhe pedir além de algumas gotas de chuva.

Lugar (exu)ber(r)ante de pedra.
Desolado. Isolado. Insolado.

Ao recebermos um convite de Dona Ana para entrarmos em sua casinha, impossível não (re)parar, apesar de seu pedido para não nos atentarmos à simplicidade.

Como não (re)parar tamanho contraste?
Não ver as goteiras no telhado de remendos e materiais reciclados?

Como sair de lá só-mente com sacos de plantas e me esquecer do solo sofrido e envelhecido da pele de Dona Ana? Como me esquecer de sua bondade e simplicidade? Como não coletar essa Vida comigo?

N(ord)este centro de beleza e pobreza,
rico e pobre,
peço,
clamo por atenção.

Luísa Azevedo

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