Tudo começou em Setembro de 2010, eu estava fazendo um estágio na Botânica na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e fui convidada pelos amigos, Nara e Pedrinho, para conhecer a Chapada Diamantina. Essa foi a minha primeira expedição botânica, em grande estilo, pois coletar nos campos rupestres, onde tantos naturalistas já haviam passado, era algo muito especial.
No caminho para a Bahia, dormimos uma noite na casa dos meus pais, em Teófilo Otoni (Tchotcho). Naquela noite, conversamos sobre a quantidade de afloramentos de granito que vimos na estrada entre Belo Horizonte e Tchotcho. Meus amigos me esclareceram que essas "pedras" eram pouquíssimo estudadas, mas possuíam uma flora super interessante. Fiquei bem curiosa, havia crescido em meio a essas pedras, e sempre me perguntava o que havia lá em cima. Até o momento, como diriam os moradores da região, só bode subia no topo das pedras.
Daí em diante passei a procurar afloramentos no Google Earth e buscar aqueles que possuíam uma área florestal relativamente preservada. Um deles me chamou bastante a atenção por possuir uma lagoa, uma matinha no entorno e não ser longe de Tchotcho. Curiosamente, esse afloramento era na fazenda de um amigo do meu pai.
Com permissão do proprietário, em Janeiro de 2011, fizemos a nossa primeira expedição para a Pedra de São Francisco, carinhosamente apelidada por nós como a Pedra do Bagão. Meus pais se organizaram para a empreitada e os amigos de BH, Nara, Pedro, Pablo e Túlio, vieram dar uma mãozinha (ou melhor, uma perninha, porque subimos à pé). Foi uma das melhores expedições que já participei, ainda era iniciante no fantástico mundo das plantas, e juntamente com meus amigos mais experientes, nos infiltramos sedentos nas matas. Meu pai não entendia nada, toda hora escutava: "essa é uma Blablablaceae muito louca!". Ao atingirmos o cume, ficamos impressionados com a beleza da paisagem. Diversas ilhas de vegetação se espalhavam sobre a rocha, com bromélias, cactos, orquídeas e canelas-de-ema se destacando pelas cores vistosas. Fiquei sem entender o que estava acontecendo, não acreditava que aquelas plantas tão exuberantes estariam ali, ilhadas, e tão bem escondidas. Ao final da expedição, com o caderninho de coleta recheado com os meus 199 primeiros vouchers, decidi que iria trabalhar com esses afloramentos de granito, que em seguida descobri serem cientificamente chamados de: inselbergs.